Day by day
Acreditei que hoje nem iria postar.
Acordei um caco.
Tenho tido sonhos surreais, parece que não dormir, é como seu eu tivesse mudado de mundo e vivesse outras experiências (totalmente desprovidas de sentido quando comparadas ao “mundo real”). Por isso acordo com a cabeça rodando, parecendo que eu não dormi.
Fui dormir às 01 da manhã e acordei às 7. Depois de mudar a medicação essa foi a primeira vez que tive o horário de sono alterado. Acordei um uma tristeza misturada com apatia. Parecia que eu não existia. Não sentia vontade de nada, meu rosto parecia que estava congelado. Não ria, não chorava, não sentia raiva.
Algumas vezes no dia me senti ansiosa para sair de casa, mas ao mesmo tempo sem vontade nenhuma de ver niguém. Estava cansada do apartamento, mas não tinha forças para saí. Fiquei alternando entre minha cama e o sofá.
À tarde fui acometida por uma crise de desespero profunda e doída. Abraçava meu marido e dizia que não aguentava mais, que não tinha mais força, que não era normal eu me senti da maneira que estou sentindo. A vontade de morrer era GIGANTESCA, não o fiz por pura covardia, por culpa de fazer meu marido e familia sofrerem. Mas sinceramente, não sei o que estou fazendo aqui. Rezo pedindo para morrer. Disse a ele que isso não era normal, que eu não era assim e que eu não queria fazer uma bobagem, mas eu havia chegado no meu limite, não dava mais.
Ontem a boca amarga o dia todo. Hoje acordei com tremores, dificuldade em articular as palavras, apatia. O único momento de explosão em choro foi esse. Juro que preferia morrer a sentir aquilo. E ao mesmo tempo olhava meu marido e pensava: isso é loucura, ele é totalmente saudável e alegre, ficar aqui internado nesse apartamento comigo vagando igual a um zumbi, toda descabelada, com o rosto congelado e o olhar distante.
Pedi que ele fosse almoçar com a família dele para se distrair. Não consegui acompanhá-lo. Não estou afim de ficar explicando porque estou com o rosto abatido, inchado, envelhecido, os cabelos descuidados. Não estou afim de explicar minha falta de vontade de conversar. E temo ficar desesperada para ir embora e todos, certamente, iriam achar esquisitíssimo. Fiquei em casa e a vontade de me matar era enorme, mas a coragem… Tenho um evento para fazer semana que vem e não posso decepcionar. Mas já não sabia que eu era, tem horas que olho para minhas mãos e sinto como se elas fossem de outra pessoa. Minha lingua parece que está grossa e é difícil articular as palavras.
Isso não é vida. Como ter uma sobrevida com o TAB se me sinto dopada, praticamente uma retardada????
Ele voltou e demos uma caminhada com nosso cachorro. Me senti melhor. E por isso vim aqui escrever um pouco.
Por mais infernal que tenha sido o dia, queria registrar as coisas aqui, pois ultimamente tenho me esquecido de quase tudo. Queria não só morrer, mas me desintegrar. Queria que eu nunca tivesse sido criada, nunca. O fardo da vida está pesado demais e não quero ir pro outro lado como suicida e continuar sofrendo. Eu só queria sumir, só isso.
É crueldade deixar um ser humano na Terra nessas condições. Não há cirurgia para extirpar o mal, não há cura, não há opções a não ser os venenos que te livram de algumas coisas mas de transforma em um saco de batatas com olhos, braços e pernas.
É isso.
Laura
Veneno Bipolar 
Existe uma constante no TAB que em momentos como esse é um grande aliado – podemos sempre contar que, a qualquer momento, tudo pode mudar e ficarmos nos sentindo melhor, bem inclusive.
Sobre o gosto na boca, acho que é a carbazepina, se não me engano. Ja ouvi relatos sobre isso antes.
Você tem razão em achar que isso que você sente não é normal. Não é. Você esta doente e por isso se sente assim. Não é você. Pense em uma pessoa com uma doença grave e pode se comparar com ela. O mais dificil é que de fato não é uma doença fisica propriamente dita, então é complicada de tratar e ainda temos que lidar com esse dogma de que so podemos sofrer se for por algo que se pode ver, nem que seja por um microscopio. Depressão – esse é o nome do que você esta passando agora – é um estado grave sim e precisa de cuidados intensivos. Mas isso é algo bom, saber disso e algo bom. Significa que se você resistir e lutar e persistir no tratamento você vai sim, melhorar. Isso tudo vai passar! Essa apatia, a vontade de morrer, a sensação de ser um zumbi, tudo isso, te garanto passa!
Ja estive numa situação bem parecida. Fui internada em um hospital para tratamento psiquiatrico e foi uma das melhores coisas que me aconteceram. Ainda sim, fiquei quase um ano em um regime auto induzido de internação domiciliar antes de conseguir lidar com a sociedade de novo. demorou mais do que eu gostaria pra sair dessa, mas agora, olhando pra trás, 9 anos depois, parece pouco perto do que alcancei por ter continuado aqui, trilhando o caminho e buscando sempre, a melhor combinação de remédios e terapia.
Vale a pena persisitir. Ligue pro seu médico, reveja seus medicamentos, faça terapia, faça algum tipo de atividade terapeutica, como pintar ou cozinhar, algo que tenho um retorno mais imediato. Continue aqui. Você não esta sozinha e isso vai passar!
bjs
Di
Não sei se serei ou não bipolar… por mim, apostava no tri-polar… mas me revejo em muito de suas “confissões” de estados de espírito e seus correlatos físicos… tenho “medo” dos medicamentos que nos transformam mas não curam, duvido da capacidade e vontade de certos profissionais da mente que “jogam” com químicos como dados, em se tratando das nossas VIDAS… sei o que é não ser “normal” e sentir culpa por interferir de forma negativa na vida dos outros, te entendo, mas não me entendo… queria só deixar uma PALAVRA, porque às vezes, para mim, uma palavra é a diferença entre querer morrer OU querer viver… VIVA, por
por favor! 🙂
Di,
Tenho respondido seus comentários em seu blog, mas quero deixar registrado aqui também a minha gratidão. Ontem foi um dos piores dias da minha vida desde que comecei esse tratamento.
Sinceramente, não morri por dois motivos: covardia e remorso de estragar a vida do meu marido e da minha família. Suas palavras me deram um fôlego, um alívio, uma força para continuar…
Como todo bipolar um dia to bem no outro to mal. É que esses últimos dias tem sido todos maus. Que lugar escuro me meti! O negócio é tentar segurar as pontas e esperar o tempo passar e a medicação fazer o efeito esperado (e não os efeitos colaterais não desejados!)
Muito, muito obrigada mesmo.
Beijos
Unitrapped,
Como disse para a Di, cada comentário aqui é como se fosse um respiro, um fôlego para mim, principalmente nesse post tão dolorido.
Fui até sua página e vi que é referente à música. Não sei se você já se trata ou não, mas te digo meu caro, não vejo muita saída fora se tratar mesmo e rezar para encontrar um bom psiquiatra.
Talvez escrever sobre seus medos e vivências também te ajude, tem me ajudado muito. E muito obrigada pela palavra de apoio, estou aqui, viva, e pretendo continuar lutando, mesmo que esteja um trapo.
Conte um pouco de você também!
Força! Fé!
E obrigada!